O passado não é vilão

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O livro “Não começou com você” resumidamente, fala sobre traumas familiares e seus efeitos em nossos sintomas, comportamentos e crenças.

O livro desmistifica a ideia de que o passado é algo para ser escondido, esquecido, como se lá só houvesse apenas razões para mais dor e sofrimento nesta existência.

Olhar para o passado tem sim suas utilidades, e segundo o livro, pode nos ajudar em nosso processo de autoconhecimento e contribuir para libertação de dores que sentimos, mas que não são nossas.

Falar sobre o passado não deveria ser tão julgado como negativo. Esta tem sido uma tendência que devemos analisar antes de praticar.

O passado já começou

Compreender o tempo é um desafio mental. O tempo é praticamente uma ilusão.

Se refletirmos, veremos que a cada segundo futuro vira presente e presente vira passado.

Sim, aquele passado que tanto tem sido condenado como um lugar sombrio que não deve ser lembrado é criado a todo momento. Assim que você acabar de ler este texto, ele já estará em seu passado.

Como o lugar apreciado como presente pode em poucos segundos se tornar um lugar proibido, quando se torna passado?

O vício de vasculhar e ruminar

Um famoso psiquiatra, que é também criador de conteúdo relevante sobre ansiedade e depressão, Dr. Marco Abud, alerta em alguns de seus vídeos, sobre o perigo de pessoas em depressão buscarem terapias que vasculhem demais a infância e o passado.

Pessoas em depressão podem criar o hábito vicioso de se fixarem no tempo passado e ruminarem pensamentos de dor, sofrimento, ou até mesmo de uma felicidade idealizada, cujo cenário elas gostariam de reviver, como se pudessem entrar em uma máquina do tempo.

Quando estamos em um quadro de depressão podemos nos beneficiar então de terapias mais voltadas para o presente, como a terapia cognitivo comportamental. Mas isto não significa que em nenhum outro momento da vida, entre crises, devemos nos afastar de qualquer movimento em busca de informações no passado.

Então, o problema não é o passado em si, mas o hábito de se fixar nele, para tentar mudá-lo ou tentar revivê-lo, em condições que sabemos, são impossíveis.

A mudança de hábitos é fundamental quando se busca saúde mental, autoconhecimento. E o hábito de ruminar pensamentos é uma grande armadilha que nos aprisiona em um ciclo infinito de repetições.

Visitas conscientes ao passado

Visitar o passado de maneira consciente é como ir ao supermercado com lista de compras. Você sabe o que quer, sabe onde encontrar e rapidamente você conclui a tarefa e retorna pra casa. Sem lista, ficamos observando produtos da prateleira pra tentar ali, decidir se precisamos ou não daqueles milhares de itens.

No passado estão valiosas informações:

  • nossa evolução pessoal: de onde viemos, os desafios superados, obstáculos atravessados e onde chegamos.
  • como fomos construídos: nossas origens e contextos sociais, afetivos que influenciaram na forma como nos comportamos hoje.
  • como nossas crenças foram criadas: através de reforços externos e internos, recompensas, etc.

Isto nos orienta em nosso processo pessoal de desenvolvimento.

Como uma biblioteca, há muitas informações disponíveis e podemos nos perder e até esquecer o que fomos buscar. Se perder é um risco, mas não há outra maneira de nos conhecermos verdadeiramente.

Aceitação e autoconhecimento

Não se trata de tentar corrigir erros cometidos ou resgatar emoções e situações felizes que acabaram. Mas de aceitar que tudo está feito e usar as informações aprendidas como base para a construção das novas histórias, com liberdade e não como prisão a enredos que querem sempre ser vistos de alguma maneira.

Além disso, retornando ao passado, conseguimos chegar a versões de nós esquecidas. Versões onde não tínhamos tanta influência cultura e social. Este ser essencialmente “nós” está ali, guardado, esperando para ser acessado um dia.

Não faça morada

O grande lembrete em se tratando do tempo é: não faça morada. Visite o passado, visite o futuro.

O passado dá acesso às páginas que já escrevemos da nossa história. Tudo que é escondido, excluído, volta com força incontrolável em circunstâncias que consideramos acaso, coincidências.

Por outro lado, o futuro é onde colocamos os esboços dos nossos planos, onde queremos chegar. É importante pensar no futuro. Isto nos motiva a trabalhar para alcançá-lo.

Prejudicial é querer morar em qualquer um deles. Morar no futuro gera excesso de preocupações num desejo excessivo de controlar a vida. Morar no passado exclui as chances de movimentar a vida em novas experiências.

Como tudo na vida, sempre se trata da dose para ser considerado remédio ou veneno.

Portanto, visite o passado para aprimorar o presente e inovar o futuro!

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