
Há algum tempo atrás assisti a uma palestra de uma médica especialista em oncologia. Sua mensagem, entre outras coisas, era de que a morte nos aproxima da vida. Fiquei com esta frase na cabeça por muito tempo e de fato vi sentido nela.
Ela falava sobre os pacientes oncológicos terminais, sob cuidados paliativos (quando se busca apenas o conforto máximo, pois não há mais recursos na ciência para auxiliá-los).
Segundo as observações da médica, estes pacientes se aproximavam com avidez do que para eles significava “viver”, pois sabiam que iriam morrer em breve e a qualquer momento, sendo que nada poderia ser feito para impedir.
Nada dura para sempre
A foto deste post é do ipê rosa em frente à casa onde eu moro. Ele me fez lembrar da palestra daquela médica e refletir sobre como a consciência de que nada é para sempre pode nos trazer uma existência mais preenchida de satisfação.
Sentir que algo acabará cria em nós uma urgência em desfrutar ao máximo de sua existência.
Como o ipê da rua onde eu moro. Ele flori apenas uma vez ao ano, depois que todas as suas folhas caem, geralmente pouco antes do inverno.
Cada cor de ipê floresce em uma época tornando o final do outono e o começo do inverno um palco para sua beleza espetacular e passageira.
Eu sei que as flores do ipê logo cairão e só voltarão no ano que vem. E por isso todos os dias eu acordo cedo e corro para ver como estão seus buquês. Eu aprecio os detalhes de seus tons. E fico feliz ao ver que mais um dia estão lá. Eu não sei ao certo quando cairão, mas sei que será em breve.
Observo como é perfeita a composição das cores e como tudo é tão complementar e harmonioso. Eu dispenso muito tempo olhando para ele. Me faz bem. Eu não consigo ver defeitos nele. Vejo marcas sim, como os galhos que foram quebrados pelos caminhões que passam pela rua. Mas isso não diminui seu valor pra mim.
Eu também admiro suas folhas, desde quando começam a nascer até o momento em que caem secas formando um tapete melancólico na calçada nos dias mais frios.
Mas no fundo, eu sinto uma saudade antecipada de vê-lo florido da minha janela todos os dias.
Talvez se o ipê florescesse o ano todo eu não daria tanta atenção à ele. Ele continuaria com sua beleza peculiar, mas meu olhar não seria influenciado pela sua finitude.
Tudo passa!
Muitas vezes o valor que damos a tudo que nos cerca é influenciado por sua finitude.
E se assim não é, pode ser que esta seja uma forma interessante de viver com presença de corpo e alma.
Os alimentos poderiam ter outro sabor se você imaginasse que perderia o paladar amanhã.
Talvez ouvir sua mãe contar pela milésima vez a mesma história não te entediasse se você soubesse que esta é a última vez que ela te contará.
A casa desarrumada pelas crianças não seria motivo de estresse se você tivesse a certeza de que na próxima semana você não estaria mais aqui.
A médica que citei no início deste texto sugeriu ainda que quando tivéssemos um problema, perguntássemos a nós mesmos: “que importância isso teria se eu morresse daqui a uma semana?”.
Parece um tanto radical pensar assim mas esta linha de raciocínio não instiga o radicalismo de consumir desenfreadamente o máximo possível; dizer tudo que vem à mente sem filtros; expressar raiva e agredir sem pensar nas consequências.
Mas é sim, um convite a dar o devido valor a cada acontecimento, a cada pessoa, a nossa existência, para que não se torne “efêmera e vazia” como tristemente concluiu o poeta.
Lembre-se sempre, tudo tem fim. A vida vai continuar, mas os atores e cenários não.
Equilibre suas reações aos acontecimentos. Observe os detalhes e desfrute da companhia de quem preenche sua vida.
Abrace as oportunidades, conquiste os sonhos que puder com garra e amor e se tiver chance, aprecie a beleza dos ipês.
Um abraço!
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